"Glen, estou criando um Manual de Identidade Visual pela primeira vez, mas sempre tive uma dúvida da qual agora eu não posso escapar. É correto dizer logotipo ou logomarca?"
Logomarca é tido como quase uma gíria. A gente usa porque o cliente usa. É como dizer "vou mandar em Corel"(deus me livre!) ao invés de dizer "vou mandar um arquivo vetorizado." O cliente não sabe a diferença e não está nem aí se é o academicamente correto ou se o Corel é uma &*$%@. Então o termo vai se difundindo. Quantos dizem que no sábado alugaram um filme quando na verdade alugaram um Vídeo Digital?
O Brasil é um país que importa mais tecnologia, cultura e educação do que exporta. Por isso estudamos inglês na escola e não os outros países que estudam o português. Muitos setores da sociedade estão em pleno crescimento. Nós importamos termos e expressões de cada tecnologia, cada novidade, cada filme de Hollywood. Quando estas palavras chegam, as pessoas as adotam de forma cega. Isto é, não sabem de onde vem a palavra e nem o que ela quer dizer, e muito menos como se pronuncia. É como se ela (a palavra) somente existisse no contexto específico do seu uso pessoal: a palavra é minha e eu faço com ela o que eu quiser e pronto.
Por exemplo, a palavra 'brief" virou "briefing" sem se lixar para a diferença entre um verbo e um substantivo..... mas piora. Pense em "Bus Door". No Brasil isto não tem nada com porta, e sim com o FUNDO do ônibus. Hã?!? Quantas pessoas pronunciam Leading, o espaço vertical entre as linhas de um texto, com o "E" aberto: Leeeeeeeding como se fosse do verbo liderar ao invés de fechado como o correto sendo derivado da palavra em inglês para "chumbo"? A lógica é: " Se está escrito, tenho o dever cívico de pronunciar de qualquer jeito."
Aconteceu antes com o francês, agora é o inglês e talvez amanhã será com mandarim. Nihao. Vejamos:
- Baguete > Baguette > é um pão, mas quer dizer palito
- Batom > Bâton > que significa bastão. Em francês o cosmético se chama rouge-à-lèvres.
- Sutiã > Soutien > quer dizer sustentar. A referência é óbvia, mas as francesas queimaram tudo na decada de 60.
A língua portuguesa é viva. Mutante. Temos que acompanhar estas mudanças sob pena de não saber falar o próprio idioma. O Aurélio adiciona centenas de palavras por ano. Entre elas temos email, target, fusion, brainstorm, boot, logon, logoff, ctrl-alt-del. Tá bom, alguns desses ainda não estão no dicionário, mas quem não sabe como usar corre sério risco de ser considerado um neandertal. A lista é interminável, mas estas palavras vão se entrincheirando no português e não tem especialista com doutorado e o escambal que as impeça.
De verdade mesmo, a palavra Logo vem do grego e quer dizer mil coisas. Entre elas estão ideograma, palavra e ícone.
Eu, por mim, usaria somente "Logo" p/ tudo. Mais simples, mais direto, todo mundo sabe o que é e ainda por cima é correto em inglês, português, alemão e etc.
Logotipo em teoria seria então um ícone feito tipograficamente, escrito. A "forma" da "escrita".
Agora é que complica.
Dez anos atrás, nos diríamos: Logomraca é errado, pois Logo=marca e marca = marca. Então é redundante dizer Logomarca pois seria o mesmo que marca-marca.
O mundo dá voltas. Hoje marca tem um sentido MUUUUUUUUUITO mais amplo que antes. Chegou o branding, uma gestão global da percepção pública da imagem de uma empresa por meio dos seu símbolos, produtos e ações. Marca agora quer dizer: a imagem da empresa perante seus públicos. O que era técnicamente errado, por causa de um adoção recente possibilita, mesmo que por um detalhe técnico, o uso da expressão Logomarca —marca da imagem— sem culpa. A questão é: você usou de propósito ou sem querer?
Temos vários autores que defendem uma posição ou outra como sendo academicamente correta, mas não impede que sejamos diariamente inundados por neologismos, estrangeirismos e achoquevimos.
Em suma o meu conselho é:
- Se tem letras, diga logotipo.
- Sem letras diga símbolo, grafema ou logograma, e
- na hora do pânico diga somente LOGO e whatever!
5 comentários:
Heheheheh muito bom...
Dica anotada.
Já tinha lido em alguns livros essa diferenciação entre logomarca e logotipo, mas dentro da agência mesmo chegaram a me censurar por querer usar o que eu julgava ser o termo correto.
vou adotar logo pra tudo, pra evitar problemas. mas como diria uma amigo meu: "pra que simplificar se você pode complicar?"
sucesso.
M. Felipe
Esse nosso idioma é cheio de armadilhas que a fagocitose que ele pratica arma pra nós...
Olá Glen;
Existe uma autora (se não me engano é a Ana Luisa Escorel) faz uma menção sobre isso em "O Efeito Multiplicador do Design"que é bastante interessante: na língua inglesa não existe "logomark", apenas logotype, pois as letras também são símbolos.
Existe uma outra fonte que também concorda com isso que é o pessoal da (Design Brasil. org - até procurei o artigo que fala a respeito disso mas não achei...).
Mas enfim é importante falar a respeito disso, pois vejo bastante gente que sai do IESB com conceitos bastante fracos a respeito disso e falando muita besteira...
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