quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Conceitos, bois e bananeiras


O fato é verídico e aconteceu com um grande amigo meu, designer, numa rodoviária da vida. Um fazendeiro muito simpático sentou-se ao seu lado e logo puxou assunto sobre o tempo, a demora do ônibus e outras amenidades. Não demorou a surgir os assuntos de trabalho. “E aí, meu fio. O que ocê faiz da vida?” “Mexo com criação” – respondeu laconicamente. “E ocê cria o quê?” “Eu crio conceitos, logomarcas, latas, adesivos...” “Gozado criá lata... eu vivo é de criá boi.”

Depois disso, quase toda vez que eu estou criando algum conceito, peça ou campanha, me vem a imagem de um bando de holandesas pastando candidamente. Quer uma coisa mais palpável do que uma vaca? Arrobas e mais arrobas de presença física, chifres, leite todas as manhãs, um churrasco no fim da vida. Criar bois prescinde de informações adicionais. Mas nós criamos CONCEITOS. Quer algo mais intangível que isso? Conceitos também nascem, crescem, se reproduzem e... olha que legal! Os bons nunca envelhecem ou morrem! Não é uma Brastemp, tem coisas que o dinheiro não compra, mil e uma utilidades... Como fazer as pessoas que não são “do mundinho” entender isso? Só existe um jeito. Criando conceitos realmente memoráveis, que aumentem as vendas e se tornem eternos. Segundo CAMARGO (2004), conceito criativo nada mais é que uma forma original e inovadora que procura fixar na mente do público-alvo uma afirmação desejada. Captaram? É preciso fixar-se na mente do Sr. Target, não como aquelas canções grudentas que provocam alterações de humor (não vou citar nenhuma pra você não acordar com ela na cabeça amanhã e me detonar no twitter). Sempre me enterneço com a simplicidade e a genialidade de Bastos Tigre para a Bayer, num slogan que existe desde 1922. “SE É BAYER, É BOM.” Sonoro, forte, fácil de fixar. Fácil? Imagino sempre uma senhora na gôndola da farmácia comprando sua aspirina. Se é Bayer é bom.

Qual o segredo então? Treino, treino, treino. Simplificar ideias complexas. Vestir o corpo e encarnar o espírito do público em questão. Como ele fala, como ele se veste, onde ele vai? Depois brincar com as formas, as sintaxes, os materiais. Cruzar o estudo minucioso com as ideias mirabolantes e “emprenhar-se” de algumas soluções possíveis.

O resultado só o tempo e o feedback das pessoas ( e dos gráficos de venda) nos trará. Talvez sim, seremos capazes de gerar boas memórias. Talvez não, melhor criar bois, vacas, galinhas, plantar milho ou bananeira. Vale criar de tudo. Menos abobrinha.

----------
Nívea Braga é a mais nova colaboradora do Criação-Fu!

3 comentários:

evelyne teixeira disse...

o que era bom fica ainda melhor com a chegada da Nívea Braga!
Parabéns! Aguardo ansiosa pelo próximo texto.

Aline Valek disse...

Seja bem-vinda, Nivea!
Sempre bom ver o Criação-Fu atualizado.

Nívea Braga disse...

Obrigada Lyne e Aline! Tão bom quanto escrever no Criação-Fu é saber que existe vida além-dos-posts: os comentários!