quinta-feira, 29 de maio de 2008

Indicação: Illustration Class

Numa área em que disputas de ego dominam e profissionais frequentemente guardam segredos técnicos com unhas e dentes, a generosidade de Von. R. Glitschka é mais do que bem vinda.

Ilustrador e designer com ampla experiência em identidade visual e desenvolvimento de personagens, Mr. Glitschka criou um blog - o IllustrationClass.com - no qual divide com os interessados na área seus segredos de criação e produção de ilustrações para fins variados.

Mais do que isso - ele disponibiliza tutoriais de seus trabalhos, com passo-a-passo de criação de logos e posters. E ainda convida outros ilustradores a compartilhar suas experiências.

A cereja do bolo são os doodles e outros exercícios para estimular a criatividade visual. Tudo com uma cara simpática, viva e colorida - exatamente como os desenhos de Glitschka. Parabéns pela iniciativa!

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Criação-com-fritas

Publicidade e propaganda deixaram há tempos de ser assunto restrito a profissionais da área. Cada vez mais o tema surge nas conversas de bar, no trabalho, em casa. E o número crescente de alunos que buscam a cada semestre cursos na esperança de se tornarem os novos Duailibis, Olivettos e Nizans comprova essa teoria.

E como acontece com qualquer assunto que permaneça muito tempo na berlinda, acaba virando algo do qual muito se fala mas pouco se sabe realmente. Some a isto todo o buzzware da área (o hábito de criar a todo momento novas expressões de utilidade discutível já foi ironizado até pelo próprio mercado publicitário) e está armado o grande e caótico circo da criação publicitária.

Esse falatório todo afeta inclusive quem está chegando agora ao mercado e às faculdades. Em sala de aula, frequentemente se vê gente perdida, tentando encontrar o caminho das pedras entre tantas regras e checklists do que fazer para criar bem (questão aliás que já foi abordada neste blog). E por dar aulas num semestre no qual esses processos são cruciais para o bom desempenho dos alunos (Laboratório de Criação para Mídia Impressa), minha atenção está sempre voltada para exemplos e metáforas que facilitem essa compreensão.

Num desses passeios de site em site esbarrei numa declaração do Eugênio Mohallen que acendeu uma daquelas clássicas e manjadíssimas lâmpadas sobre minha cabeça, apontando um caminho para entender como essas coisas funcionam. Reproduzo aqui a tal declaração:

"O que é propaganda? É tentar disfarçar uma coisa muito chata que é o processo de venda. Tanto que estereótipo disso é aquele vendedor de enciclopédia, que bate na porta e você não quer atender. Propaganda é dar uma disfarçada nisso, é um processo de sedução. Você tem que dizer alguma coisa de maneira interessante, de um jeito novo, fora do lugar-comum. Quanto mais referência tiver de tudo - livro, cinema, música, etc - você terá mais condição e instrumentos para isso. Uma coisa que acho fundamental é observar o ser humano e a você mesmo." (Eugênio Mohallem)

Se eu tivesse que escolher uma lição que resumisse tudo o que um aluno precisa saber para poder começar a criar em publicidade, seria esta declaração do Mohallen. Está tudo ali:

"O que é propaganda? É tentar disfarçar uma coisa muito chata que é o processo de venda. Tanto que estereótipo disso é aquele vendedor de enciclopédia, que bate na porta e você não quer atender." Aqui cabe deixar claro que (como bem disse o Casulo num post anterior) "vendedor" aqui não é uma comparação literal. Nosso processo de venda funciona para ambos os lados: ao mesmo tempo temos que transmitir para o público informações de forma otimizada e estimular o cliente a se envolver nesse processo, aceitando desafios e procurando soluções que façam diferença e saiam da mesmice.

"Propaganda é dar uma disfarçada nisso, é um processo de sedução. Você tem que dizer alguma coisa de maneira interessante, de um jeito novo, fora do lugar-comum". Fale, mas fale diferente, como já dizia o personagem da Escolinha do professor Raimundo. A busca por uma mensagem não apenas relevante mas também interessante e de impacto não é apenas um capricho das duplas de criação ou um maneirismo dos publicitários. Não se trata de querer ser engraçadinho (embora o mercado esteja cheio de profissionais que acham que boa propaganda é aquela recheada de "sacadinhas"). Trata-se de seduzir - e sedução é uma arte que vem desaparecendo em meio a mensagens fáceis e apelativas. Para quem conhece o famosíssimo comercial "1984" da Apple, um bom exemplo dessa tendência pode ser visto neste vídeo aqui.

"Quanto mais referência tiver de tudo - livro, cinema, música, etc - você terá mais condição e instrumentos para isso. Uma coisa que acho fundamental é observar o ser humano e a você mesmo". Aqui Eugênio Mohallem finaliza com chave de ouro, deixando claro o quão importante é ter conteúdo para criar boas associações. Ninguém espera que um ciclista esteja pronto para disputar a Tour de France sentado num sofá em casa mentalizando sua bicicleta, mas por alguma razão que me foge à compreensão, ainda há quem ache que para criar não é preciso ler ou escrever.

Cada vez mais fica claro que criar é algo que deve ser mais aprendido que ensinado. Mas enquanto não surge o tal método mágico de ensino, é bom poder desfrutar da sabedoria escondida nessas pequenas pílulas que os grandes profissionais nos dão de vez em quando.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Na hora H, transpirar é melhor do que Viagra

Criatividade é uma expressão que gera tantas crises de identidade. Crise nos que se entitulam criativos. Crise nos que acham que jamais chegarão a ter um espasmo iluminado. Crise nos palpiteiros de plantão. Crise por onde quer que ela passe. Isso é muito estranho, pois todo discurso moderno vindo de empreendedores, de marketeiros, de pessoas envolvidas com processos decisórios fazem referência a tal criatividade como um acessório de série (e não opcional) em qualquer indivíduo capaz de bolar soluções que, para muitos “engenheiros de obras prontas”, não passam de coisas óbvias.

O que é criatividade nos dias de hoje? A criatividade de hoje é diferente da criatividade de ontem? É mais difícil ser uma pessoa criativa no mundo globalizado em que vivemos do que há décadas atrás? São tantas as perguntas que acabo entendendo o porquê das incontáveis crises.

O cerne da questão está na falta de entendimento do que realmente explica conceitualmente a tal criatividade. Diferente do que a maioria dos mortais pensa, criatividade não significa inovar sempre. Inovar possui uma relação bastante íntima com o conceito de criatividade, mas não é condição de existência da mesma. Jamais podemos esquecer que a procura pela inovação é quase uma imposição do mercado. Ainda mais quando estamos nos referindo ao cruel e nada compreensivo mercado publicitário. O difícil é fazer com que a relação que existe entre agência de publicidade e clientes seja amistosa, quando existe a falta de diálogo numa mesma freqüência. Os clientes, geralmente, querem inovar, quando, na verdade, não permitem que os comunicólogos (no caso, os publicitários) decodifiquem seus anseios através de um discurso publicitário pleno. É como se você chegasse em Paris, por exemplo, soubesse que quer comer uma baguete, mas não soubesse como pedir. Essa sensação é extremamente broxante. Se coloque no lugar do cliente e imagine o quanto é ruim sentir que falhou na hora “H”. Agora imagine que você é o cara mais criativo de uma agência de publicidade, seja na área de atendimento, mídia ou criação, mas não conseguiu estimular seu cliente suficientemente, a ponto dele se sentir impotente. Ruim essa relação, não é? Como sabemos que viagra não resolve este impasse, cabe a nós publicitários fazermos um minucioso trabalho de educação publicitária a todos que exigem criatividade até na hora de bolarmos um mega ultra cartão de visitas. Se for entendimento comum, que criatividade é a arte de solucionar problemas, ora inovando, ora não, a relação entre cliente e publicitários será mais amena e respeitosa. Publicidade significa tornar algo público. Não somos vendedores, como pensam.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

A hora do brush está com seus dias contados

Acontece a cada década. Elas chegam de repente, en masse, e dentro daquilo que parecem dias, se tornam ubíquas. Ficam por aí um tempinho, e invariavelmente, são processadas, consumidas e eventualmente descartadas em cíclos cognitivos e sensoriais coletivos. No início, você pode até se surprender apreciando-as, curioso para saber por quê não foi você que teve essa idéia, e, apesar de que, de fato, não foi você, como você poderia incorporá-las no seu próximo projeto. Se forem muito complexas, pode até demorar um pouco até desvendá-las, mexendo nas ferramentas novas do Illustrator ou nos últimos plug-ins do Photoshop, passando horas on-line atrás dos melhores tutoriais, ou, dependendo do grau da sua competividade, trocando dicas com seus colegas. E, uma vez elas dominadas, aí que começa a farra, a aplicação inexorável à toda e qualquer peça que for passar pelo seu caminho. Você está dividido entre o orgulho de ter consiguido o controle, a técnica, e a vergonha de seguir cegamente as super-abusadas últimas tendências criativas.

São aquelas manias estilísticas que tomam conta de toda comunicação visual durante uma dada época. Certamente, não são fenômenos recentes, pois sempre estiverem presentes, tanto, que elas acabam sendo associadas a períodos históricos e usadas para classificar estilos de design. É por isso, como o nota o grande historiador Philip B. Meggs, que o design é considerado uma expressão particularmente fiel de zeitgeist, uma palavra alemã que não tem tradução precisa, mas significa mais ou menos “a alma de uma época” e se refere aos gostos e tendências de uma era. Mas essas modas, do jeito que estamos vendo elas hoje em dia, na era da mecanização e da reprodutibilidade da criação, posam certos problemas – de criação, de inspiração e de missão, de fato, como “gerador” de novas linguagens visuais – para o designer. Estou falando especificamente da atual tendência dos brushes e dos seus inúmeros efeitos. Não é que eles são “chocantes” nem “surpreendentes”, porque a qualidade do trabalho que eles enfeitam raramente é muito alta. E o que marca, não pode ser o detalhe, o enfeite, se o conjunto for ruim. Na verdade, esses efeitos são, no melhor dos casos, totalemente enfadonhos, e simplesmente irritantes no pior – quando você teve que olhar para aqueles padrões abstratos de videiras, subindo e se enroscando pela 738,882,115a vez numa tarde. Imagino que não seja muito diferente do que ouvir pela primeira vez uma música empolgante no rádio, se deixar consumir pelo ritmo, anxioso para ouví-la de novo, descubrir “quem canta aquela música?”, e se apressar para abaixá-la; e aí, de repente, você percebe que está ouvindo ela o dia inteiro, todos os dias, no carro, no trabalho, no shopping, no bar, na TV, até que a única coisa mais chata do que ouví-la mais uma vez, é não conseguir tirá-la da cabeça. É o tipo de buzz que pode ser bom no ínicio, para propulsionar vendas, merchandising e ações promocionais, mas certamente não segura a onda ao longo prazo, e pode, na verdade, prejudicar o sucesso do dito produto. É só perguntar para o Rick Astley.

Surgem, então, várias perguntas ao refletir sobre a atual mania da escovinha (e eu insisto no “atual”), perguntas importantes não apenas para designers e a comunidade de design (incluo nisso os publicitários), como também – assim como é freqüentemente o caso com esses assuntos – para os consumidores de design, os nossos clientes, que parecem não entender que é justamente porque todo mundo está fazendo que não é bom. Enquanto essas manias estão no seu auge, pode rolar uma distorção preocupante entre o design “bom” e o “ruim”. Será você um “bom” designer, que produz trabalho de qualidade, de impacto durador, ou será você apenas um bom técnico, que aperfeiçou o manuseio do brush? É importante poder fazer essa distinção, especialmente na sala de aula, pois o primeiro tipo de criativo tem de fato uma chance de marcar a sua época, influenciar a evolução da comunicação visual, enquanto o segundo corre o risco de se tornar um escravo do plug-in, e conseqüentemente, estagnar professionalmente. Não me interessa tanto de saber exatamente como o brush chegou aquilo que ele é hoje – a resposta é relativamente simples: comunicação de massa, vozes globalizadas, gostos a cada vez mais homogenizadas, o medo e risco de não ser aceito. Mas é claro que, com as máquinas a cada vez mais potentes-porém-baratas, a fartura de tutoriais disponiveis on-line (sem falar dos cursinhos para os mais ambiciosos), e os aplicativos über-intuitivos, é mais tecnicamente fácil do que nunca montar uma peça publicitária ou um site; qualquer um pode se sentir numa posição toda-poderosa de aparente controle e gênio. Essa sensação só pode ser confirmada quando se percebe que consegue reproduzir exatamente aquilo que os “pros” estão fazendo! Oba! Ninguém me segure agora! Hajam trepadeiras! Hajam ondas abstratas curvando e subindo pelas bordas de cada uma das minhas peças! (Infelizmente, o limite do tolerável sempre é elastico demais nestes casos.)

Não que o brush em si seja repulsivo – eu mesmo já me surprendi apreciando a graciosa parreira, até cheguei a usá-la – uma vez. Mas o negócio é que o seu uso é excessivo, e isso, sem comunicar coisa nenhuma. Os fanáticos do brush não limitam a sua ornamentação obsessiva apenas a trabalhos de natureza botânica. Pelo contrário, eles a aplicam a todo e qualquer material que eles produzem, seja para promover uma rave, anunciar um curso de verão ou vender tampa de vaso sanitário. Houston, we have a serious design problem – forma e função saírem do prédio, separadamente. Então o problema aqui é duplo: de um lado, é o uso excessivo, e do outro, o uso gratuíto, dois errors comuns ao designer inexperiente – ou simplesmente “ruim”. Como se pode justificar o uso da mesma técnica para todos os seus projetos? Mesmo para quem trabalha com um tipo muito específico de cliente - organizações não governamentais, ou empresas de tecnologia, por exemplo – como se pode ignorar descaradamente as necessidades e vozes únicas que cada um deve ter? O professional que faz este tipo de criação formulaíca viola um princípio cardinal da comunicação corporativa quando ele homogeniza cada estilo, em vez de individualizá-lo. Ele perde também uma oportunidade de fortalecer o brand da empresa quando ele deixa de criar uma conexção emocional forte com o cliente – é dificil se animar, se sentir especial se todos têm a mesma coisa do que eu.

Modas geralmente não consitutem obras de excelência. Então – como julgar a qualidade de um trabalho? Será que tem como responder à essa pergunta ligada ao imediato, ou será que tempo e perspectiva são variáveis fortes demais nessa análise?

Antes da “automatização” da criação (Do-it-yourself-layouts, Design cookbooks, Logos by Microsoft Office), o design permanecia único durante mais tempo, não era clonado maciçamente. De repente, não tinha tanto motivo para clonar, antes que o design se tornasse uma “commodity” tão quente nos mercados globais. Hoje em dia, tem também essa imagem de um trabalho que é só glamour. O ego não consegue resistir à possibilidade, mesmo infinitamente remota, de ver a sua obra nos holofotes.Tantos motivos para não entrar nessa profissão! Mas ao olho leigo, o brush do Illustrator eliminou o braçal a 2 níveis: na execução (nada de paste-ups, estilete, spray mount, xerox, cromos, etc), mas também APARENTEMENTE no processo criativo (“é so dominar a maquina, qualquer um faz. Não preciso ter idéias, o aplicativo já gera um estilo enlatado para mim que é tão profissional quanto aquilo que está sendo veiculado lá fora. E já que está lá fora, deve ser bom”). Aí que está o big mistake.
As verdadeiras obras de gênio são frutos dos trabalhos de designers que desafiam tendências, que realmente criam, a partir do 0, coisas novas. O bom design, antes de qualquer outra coisa, é um lugar onde forma e função conversam, se mesclam, trocam fluídos, se casam. Também é único, original, inusitado, pode até chocar, assim como o fez o texto do Stefan Sagmeister burilado na própria pele (www.sagmeister.com/work5.html . Ele usou também uma galinha decapitada para anunciar uma conferência da AIGA). O bom design, muitas vezes, força os limites da comunicação, é sempre indiferente as modas, como é o trabalho do David Carson, que incorpora os próprios erros no trabalho final. JAMAIS o bom design é dependente de, nem meramente conectado a, aplicativos. A execução nunca é acessória, pelo contrário, ela sempre é intencional e consciente, como nos cartazes do grande Ivan Chermayeff, cujo estilo deliberadamente infantil e ilustrativo é inconfundível.

Se você depende de aplicativos para criar – o que já, de cara, me parece totalmente absurdo (voce sentaria na frente do Word esperando ele escrever o seu texto?) – o mais que você pode almejar, é de ser mais um rosto bonito na multidão (é isso, apenas se você for MUITO bom de Illustrator). Com certeza, ninguém de valor vai querer se comprometer para beleza a curto prazo e sem substância, especialmente se tiver uma expectativa de algum tipo de retorno no investimento.

É isso que distingue um trabalho bom, excepcional, de um meramente bem executado, ou “na moda”. Porque o brush em si, não quer dizer nada, é apenas uma desculpa estilística para uma falta de substância. É uma coisa que existe tão disconectada de uma mensagem, tão aleatória, que acho até presunçoso chamar de “estilo”. Só pode ser julgado, como um detalhe bem executado, bonito ou feio, mas nunca como uma voz que faz uma diferença.

Então da próxima vez que você pensa em usar um brush, pensa naquilo que você esta dizendo (ou justamente, não está dizendo) com ele. E se você se surprende cansado dele, entediado pela sua repetitividade, se você é consumido por estrahas sensações de déjà-vu a cada vez que você entrega um projeto ou folhea uma revista, chegou a hora de ir adiante, buscar outras fontes de inspiração, e voltar à verdadeira alma da criação – de fato, para verdadeira criação, em vez da mera imitação. Se for aquilo que você estiver almejando, então o desafio, o questionamento, o teste, a rejeição, e o risco farão parte do seu cotidiano. Só assim você vai poder fazer parte da turma dos grandes, dos inovadores, dos verdadeiros gênios que já estão indo além do zeitgeist, anunciando a próxima era de design.


sábado, 10 de maio de 2008

Banksy Brasiliense?

Para quem vem de fora, é difícil se acostumar ao concreto de Brasília. De longe, ou pela lente da câmera, não dá para ver o envelhecimento, o cinza e a sujeira dos edifícios. Mas uma vez mergulhado nas superquadras, nas comerciais, e nos monumentos massivos da esplanada, as marcas do tempo doem nos olhos. Se não fosse a vegetação vasta e luxuriante, e os esforços recentes para revitalizar as faixadas dos prédios, a cidade teria uma cara bem triste.

Por isso que chamou a minha atenção e me alegrou de ver, nas passarelas que vão da 112 norte para a 212 norte, as paredes de concreto detonadas, animadas com cenas e personagens estilizados, pintados em fundos coloridos. Um grande choque neste panaroma urbano tão desgastado, manchado, opressivamente prático. O que a gente costuma ver naquelas peredes são anúncios para persianas ou empréstimo rápido, e grafiti iligível – coisas desagradáveis, irritantes. Mas cenas, figuras oníricas, surreais, coloridas, bonitas? Esse artista levou um tempão para executar suas pinturas – um avião a hélice num vasto ceu amarelo, e uma espécie de arlequim sóbrio – só para pintar o fundo colorido, esperar secar, para depois aplicar o stencil por cima, deve ter levado uma boa meia hora. Isso não é grafiti - ou será que é?

Na wikipedia, o grafiti é definido como “imagens ou letras buriladas em paredes”, mas ao bater o olho nestas telas urbanas, não usaria estas palavras para descrevê-las. O grafiti foi, durante anos, considerado apenas como uma forma de protesto gráfico, até de vandalismo, muitas vezes conectado aos movimentos anarquistas. Mas hoje em dia, aquilo que distingue vandalismo de protesto de arte de comércio é a cada vez mais fluído.

O artista de rua inglês Bansky (http://www.bansky.co.uk/) enfeita, há vários anos, as ruas de Londres com os suas obras (de novo, não “grafiti”), ora cínicas, ora críticas, ora engraçadas, mas sempre deslumbrantes, que ele cria aproveitando estruturas, falhas em paredes, e até outros grafitis. Ele já usou-as para denunciar atitudes do seu governo ou questionar um comportamento excessivamente consumista. Em outras ocasiões, ele está apenas usando as paredes e cercas da cidade como telas. Seja o que for, acontece que a própria cidade de Londres (o "council") está trabalhando para preservar e proteger as obras dele de outros grafiteiros! Ou seja, o dinheiro do contribuinte inglês, usado para não limpar os grafitis - o que será que o Bansky acha disso tudo? Será que a sua arte continua com a mesma mensagem de protesto, já que ela é apoiada, mesma dessa forma desviada, pelas autoridades?

O Brasil já tem grandes grafiteiros de renome internacional, que também navegam entre os universos da arte comercial, arte estabelecida, e o vandalismo. Os Gêmeos, assim como são conhecidos os irmãos Pandolfo, já decoraram muitas paredes paulistas com as suas figuras estilizadas meio psicodélicas. Eles receberam até uma comissão do famoso Deitch Project (http://www.deitch.com/), pelo qual eles ganharam uma bela nota. Os dois fizeram faculdade, e parecem cultivar inteligentemente o estilo, e a carreira. Eles usam a cidade como tela (o que tecnicamente, é ilegal) sem necessariamente ter um conteúdo revindicador (continua ilegal), onde eles dão vida às cenas coloridas e fantásticas - então, não estão, de fato, fazendo uma coisa boa? Não temos todos alguma coisa para ganhar com uma selva de concreto mais alegre, menos fria? Em outros momentos, eles mergulham no universo da arte estabelecida, mesmo a arte deles sendo de vanguarda. Se é o subversivo que dá o valor, será que continua com o mesmo valor quando o trabalho é reconhecido, aprecido, comprado pelo “establishment” artístico? Esses artistas podem ter o seu bolo e comê-lo ao mesmo tempo? Isso tira alguma coisa da arte deles? O Bansky fez o gesto mais surreal, absurdo, mais que não deixa de ter um sentido - ele tem um loja virtual no site dele - loja, façon de parler, pois tudo é de graça (são imagens que você pode baixar). Pelo menos isso tem lógica, uma lógica que não compromete a essência do trabalho dele.

O interessante do grafiti, é que, num primeiro momento, não há censura, não digo necessariamente de autoridades públicas, mas também de um curador, um “intelectual”, no processo de seleção que acontece nos museus, arcervos e coleções (lembra o Salão des Refusés dos Impressionistas). Antes mesmo de qualquer tipo de intervenção acontecer, o negócio já está lá, nas ruas, grande, in your face, e não tem como não vê-lo. Já teve o impacto – sim, o mesmo tipo de impacto que a gente discute em sala de aula: o que chamou a minha atenção na hora de passar da 112 para a 212 norte, foi aquela coisa inesperada, em termos do local, mas também em termos do estilo gráfico: a confiança, a ousadia, a forma, a cor, a figura que reconheci. Se tivesse sido um grafiti qualquer, mais uma mancha em mais uma parede manchada, mesmo rabisco ilegível, o teria ignorado, ou teria dado um grande suspiro e pensado o quanto que é lamentável. Não teria lembrado. Não teria sentido aquilo que senti, emoção, curiosidade. O questionamento também: o que será que é? O que esse cara está falando? Será que ainda estará lá amanhã?

A intervenção, a censura (o ato de apagar o grafiti) que acontece muitas vezes tarde demais, é totalmente contra-produtiva, justamente porque ela gera mais buzz ainda, mais curiosidade. É uma técnica que já foi usada na publicidade, em ações de guerilha e marketing viral. A Heineken fez exatamente isso, usando grafiti, numa campanha para o US Open de 1996, que estava patrocinando. Durante semanas antes do início do torneio, a gente via uma bola verde-amarela com uma estrela vermelha dentro, feita com spray no chão, nas calaçadas de Nova York. A gente só começou a perceber conscientemente o signo depois de alguns dias; em seguida, procurávamos “ativamente”: aquilo chamava a atenção quando aparecia na visão pereférica. Aí que tentamos interpretá-lo. Durante semanas, a gente batia o olho naquele negócio e ficava pensando - mas que diabo é isso? E uma belo dia, enquanto estavamos atrevessando a rua, prestes a pisar mais uma vez na bola, o Glen, meu marido, falou - “Já sei o que é”. Ele tinha adivinhado. A Heineken estava botando a marca dela, de graça, em todas a calçadas da cidade. Ou seja, o subversivo que se torna altamente comercial, lucrativo. A very long shot das origens anarquistas.

Tem cidades onde o grafiti não é apenas aceito, mas faz parte da identidade do lugar. É o caso de Berlin, onde, em certos bairros, sobram poucas paredes da sua cor original. Aí que essas perguntas sobre a alma do grafiti devem ter uma outra dimensão – mistura de arte, comercial, protesto, expressão pessoal, identidade, simplesmente de belo. Seré que essas motivações combinam? Enquanto o denominador comum é a beleza, eu não sou contra. Prefiro ser cercada de imagens bonitas, ainda mais se elas vão me fazer pensar - mesma se for uma pergunta simples - do que por um concreto cinza, velho, detonado.

Indicação: Andrzej Dragan

Para quem gosta da linha crua e emotiva de Sebastião Salgado, vale a pena também conhecer o trabalho do fotógrafo polonês Andrzej Dragan. Dragan ficou famoso por suas fotos expressivas e com forte apelo visual, e sua linha de trabalho já virou estilo.

A própria história pessoal de Dragan já é peculiar. Com menos de 30 anos e tendo iniciado sua carreira somente em 2003, já tem na bagagem diversas exposições e prêmios. Seu trabalho já foi comparado ao do fotógrafo checo Jan Saudek, que também utiliza elementos estéticos de fotografias antigas e colorização manual.

Dragan tem um PhD em física quântica e acumula (além da fotografia) as profissões de publicitário, cientista e professor universitário.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Indicação: Fotografe +

"O fotógrafo se vê o tempo todo diante de alternativas múltiplas e precisa decidir com rapidez onde vai focar suas lentes, que diafragma usar, em que velocidade, ângulo, exposição, com que olhar vai fixar seu objeto. O resultado dessas decisões e escolhas reflete a personalidade do fotógrafo e a forma como ele vê e pensa o mundo à sua volta."


É com esse texto que Maísa Coutinho convida os amantes da fotografia a conhecer seu blog Fotografe +. O site está só começando, mas referências sobre fotografia são sempre bem vindas, e este blog aqui já começa com um pézinho na publicidade.


Gostou? Não deixe de visitar também este aqui.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Quem Batizou Esta Criança?

Como encontramos o nome perfeito para um produto? Naming, como é chamada a "arte" de inventar nomes e apelidos para empresas, produtos e serviços está em plena expansão. Nesta especialização do branding, a palavra escolhida deve evocar características favoráveis ao seu produto na imaginação do público-alvo. Seja pelo som, significado ou associação, uma conexão emocional deve ser feita para ser  lembrado na hora da decisão da compra.

Para começar, podemos escolher nomes próprios já existentes. Estes já tem lugar no imaginário popular, portanto é só encontrar algo que tenha características positivas compartilhadas e pronto. O Sirocco, um carro da Volkswagen vendido na Europa tem o nome do vento que sopra sobre o Saara. É fácil imaginar a natureza romântica das caravanas transportando cargas valiosas empurradas pelo vento que perfuma o Mediterrâneo.

Temos também os nomes próprios de pessoas. Tio João não lembra arroz em nada, mas lembra um lado paternal, a família que sempre gosta de uma feijoada onde você está sempre convidado. A confiança é a base da fidelidade do cliente. Em quem você confiaria? Em um estranho ou no Tio João?

Os nomes inventados também funcionam, mas ATENÇÃO... a economia globalizada demonstra que o seu produto que tem um nome bacana aqui pode ter um outro sentido quando passa a fronteira. Levitra tem este nome por que? Em sí, não quer dizer nada, mas lembra tudo que sobe... Golpe baixo, mas como nome, funciona para um remédio contra impotência sexual masculina. Por outro lado, existe o caso da Mistubishi Pajero, em que foi necessário mudar o nome do carro em países de língua espanhola para Montero. Ao batizar o 4x4 em homenagem a um gato selvagem, o "felis pajero", nossos colegas nipônicos não imaginavam que em espanhol, "pajero" quer dizer masturbador compulsivo... portanto, em vários países, temos o Mitsubishi Montero em seu lugar, já que em quase todo o mundo é proibido dirigir com uma mão só.

Quem não tem site, não existe. Verdade. Antes da compra existe a pesquisa, e um site onde o cliente vai conhecer melhor o seu produto, pode dar aquela credibilidade tão necessária na hora H. Aí entra o nome do site. Existem empresas, produtos e serviços que só existem na internet. O endereço do site é o nome da marca. Neste caso os descritivos são os melhores  - você não exige muito da memória saturada da clientela, e quando ela pensa no serviço, o nome do site já está na ponta da língua. Mercadolivre.com, tudogostoso.com.br, netmovies.com.br, e charges.com.br, todos são bons exemplos. Até quem não tem serviço relacionado a internet pode se beneficiar, assim como o queroserescoteiro.com. Mas atenção! Só por que está disponível, não quer dizer que é um bom nome. Aqui vai uma listinha de escolhas mal-estudadas e desastrosas.

1. http://www.whorepresents.com/
O que é o site: Um banco de dados para agências de ricos e famosos.
Sentido verdadeiro: Who represents - Quem representa
Sentido literal: Whore presents - Presentes para Prostitutas

2. http://www.expertsexchange.com/
O que é o site: Um fórum onde programadores trocam dicas.
Sentido verdadeiro: Experts Exchange - Trocas entre experts
Sentido literal: Expert Sex Change - Troca de sexo expert

3. http://www.penisland.net/
O que é o site: Uma empresa que faz canetas sob encomenda.
Sentido verdadeiro: Pen Island - Ilha da caneta 
Sentido literal: Penis land - Terra do pênis

4. http://www.therapistfinder.com/
O que é o site: Site de busca de terapeutas.
Sentido verdadeiro: Therapist finder - Busca terapeutas
Sentido literal: The rapist finder - Busca de estupradores

5. http://www.molestationnursery.com/
O que é o site: Uma creche no sul do País de Gales.
Sentido verdadeiro: Mole Station Nursery - Creche de Mole Station
Sentido literal: Molestation nursery - Creche de molestamento

6. http://www.powergenitalia.com/
O que é o site: Empresa de energia elétrica em Milão, na Itália.
Sentido verdadeiro: Power-Gen Italia
Sentido literal: Power genitalia - Genitália poderosa

Portanto, antes de decidir o nome da criança, pense no futuro que você planeja para os seus filhos.

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Sobre tudo, e mais os 10% do garçom


Uma das primeiras coisas que escutei quando mal tinha posto os pés no inóspito e aventureiro território da propaganda foi que "um bom publicitário deve ser capaz de conversar sobre qualquer assunto por (pelo menos) dois minutos". É verdade que também dizem que bom publicitário não almoça antes de 1h da tarde, e pelo menos um profissional já me afirmou que pôr uma fita vermelha na testa acelera o processo de incubação, o que para mim só prova que não se deve dar ouvidos a tudo o que publicitários falam. No entanto, posso garantir com uma boa margem de segurança que um pouco de cultura geral nunca matou ninguém (só para constar, uma estante desabando sobre um leitor incauto não se encaixa na categoria "cultura geral matando alguém").

Como bom viciado em cultura pop e inutilidades, não foi preciso ouvir o conselho duas vezes - e o tempo provou que colecionar informações variadas só ajuda no processo de criação. Há uma pá de histórias sobre como informações esdrúxulas frequentemente ajudam a criar bons anúncios. Uma das mais famosas envolve o Eugênio Mohallen, um leão roubado e um anúncio de seguradora, mas deixo para postar essa quando achar fonte fidedigna para os detalhes (a internet já tem hoaxes demais para que eu gere mais um).

Há vários jeitos de se conseguir informação, seja em forma de dados ou de inspiração abstrata, mas eu gosto de insistir em um método arcaico e trabalhoso chamado leitura. Ler traz benefícios que extrapolam a simples aquisição de informação, porque o processo de ler em si melhora sua capacidade de construir bons argumentos, se expressar e criar textos interessantes. "Mental fitness". É o princípio de ficar melhor numa coisa à medida que a exercita.

Comece montando sua biblioteca pessoal de referências. Para quem está começando na área, esse passo será mais útil quanto mais cedo você começar a construir o próprio acervo.

Mas não basta ler: é preciso ler muito, e sobre coisas variadas. Começar com 14 livros por ano é um bom aquecimento, desde que para fins de contagem, sua lista tenha somente no máximo dois livros técnicos da área. Ler somente livros de publicidade é passe direto para ficar bitolado. É como fazer aquela dieta dos pontos, e gastar todos os pontos da semana em barras de chocolate. No cheating, buddy.

Para os mais aventureiros, aconselho visitar uma boa biblioteca, entrar numa área fora de seu foco direto (por exemplo, História, ou Psicologia), pegar um livro aleatoriamente na estante e levá-lo para casa. (Depois de registrar o empréstimo, obviamente. Não estou promovendo nenhuma campanha de "furte este livro". Enfim...) A experiência pode ser interessante, e você pode descobrir informações valiosas. Ou pode ser absolutamente chata, mas isso não faz diferença: a experiência de se expor a algo diferente sempre traz algum tipo de saldo positivo.

Se você não é chegado a "encontros às escuras", ou está ávido para adquirir cultura geral, há uma série de publicações divertidas, informativas. Abaixo, uma lista de sugestões (e eu juro que não estou ganhando comissão):


  • Fletcher, Alan (2001). The Art of Looking Sideways. Phaidon Press. ISBN-10: 0714834491

  • Geary, James (2007). O Mundo em uma Frase - Uma Breve História do Aforismo. Ed. Objetiva. ISBN: 9788573028485

  • Mohallen, Eugênio (2004). Razões Para Bater Num Sujeito de Óculos. Ed. Planeta. ISBN: 8589885194

  • De Lara, José Francisco (2007). Ironia (Frases Soltas Que Deveriam Estar Presas). Ed. Cócegas. ISBN: 8590480216

  • O'hare, Mick (2007). Quanto Preciso Pesar Para Ser à Prova de uma Bala Perdida. Ed. Record.

  • Schwanitz, Dietrich (2007). Cultura Geral: Tudo o Que Se Deve Saber. Ed. Martins Fontes. ISBN: 9788533623361

  • Bahiana, Ana MAria (2006). Almanaque Anos 70. Ed. Ediouro. ISBN: 8500017880

  • Alzer, Luiz André e Claudino, Mariana (2004). Almanaque Anos 80. Ed. Ediouro. ISBN: 8500015322

  • Essinger, Silvio (2008). Almanaque Anos 90. Ed. Ediouro/Agir. ISBN: 9788522008995

  • Kataoka, Fabio e Tavares, Portuga (2006). Almanaque do Fusca. Ed. Ediouro. ISBN: 8500020717

  • Pugialli, Ricardo (2006). Almanaque da Jovem Guarda. Ed. Ediouro. ISBN: 8500020733

  • Braune, Bia e Rixa (2007). Almanaque da TV: Histórias e Curiosidades... Ed. Ediouro. ISBN: 9788500020704

  • Albuquerque, Carlos e Leão, Tom (2004). Rio Fanzine: 18 Anos de Cultura Alternativa. Ed. Record. ISBN: 8501071803

  • Braga, Flávio e Batista, Carlos (2006). Almanaque dos Quadrinhos. Ed. Ediouro. ISBN: 8500016906

  • Pereira, Paulo Gustavo (2008). Almanaque dos Seriados. Ed. Ediouro. ISBN: 9788500020728

  • Duarte, Marcelo (2005). Guia dos Curiosos, O. Ed. Panda Books. ISBN: 858753792X

  • Duarte, Marcelo (2003). Guia dos Curiosos - Língua Portuguesa, O. Ed. Panda Books. ISBN: 8587537342

  • Duarte, Marcelo (2006). Guia dos Curiosos - Esportes, O. Ed. Panda Books. ISBN: 8576950243

  • Duarte, Marcelo (2004). Guia dos Curiosos - Jogos Olímpicos, O. Ed. Panda Books. ISBN: 8587537563

  • Duarte, Marcelo (1999). Guia dos Curiosos - Brasil, O. Ed. Cia das Letras. ISBN: 857164960X

  • Duarte, Marcelo (2001). Guia dos Curiosos - Sexo, O. Ed. Cia das Letras. ISBN: 8535901299

  • Velloso, Priscila Arida (2004). Original Almanaque Dúvida Cruel, O. Ed. Record. ISBN: 8501069655

... e a lista é enorme, mas este é um começo. Então, escolha um livro, acomode-se e vá descobrir como deve ser uma prancha para quem quer surfar sobre lava, quais foram as 10 mais durante a década de 80 ou quantas músicas dos Beatles foram assinadas por "Lennon & McCartney". Se essas informações não renderem bons anúncios, ao menos ajudarão bastante nas próximas sessões de "Imagem&Ação", "Academia" ou "Tabu" com os amigos.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A filosofia das letras

O filósofo já disse: mais importante que o dito, é o não dito. Não quero cometer nenhuma heresia ao citar Foucault, mas o bom texto publicitário deveria beber de canudinho nessa fonte. Por que falar o óbvio ululante? Por que mostrar tudo e estragar a surpresa? Galera, vamos seduzir! Talvez vocês não se lembrem, mas houve um tempo em que as mulheres andavam mais vestidas, em que o Chico Buarque cantava “as janelas dos vestidos” (leia-se decotes), os homens caprichavam no texto das cantadas ou chavecos, como dizem os paulistas.

Hoje está tudo na base do “vai ser bom não foi?” Tudo rapidinho, instantâneo à la miojo lámen. Aonde foi para o sabor do texto? Fique você sabendo que é muito gostoso ver, mas imaginar, nem se fala. Voyerismos à parte, o texto apetecível vai se descortinando a cada linha. Parece que as letrinhas se transformam em seres animados que dançam, deliciosamente, para os nossos olhos. Isso acontece, muitas vezes, desde o comecinho do título até quase o último parágrafo. O melhor, meu caro leitor, sempre está por vir. O nosso amigo target, aquele que tem bom gosto e sensibilidade, sabe disso. Ele entra na história, se envolve com a brincadeira e torce pra acertar qual é o produto no final. Malditos redatores, eles sempre acertam.